O escritório aberto, desacreditado novamente
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Comentário
Cresci em uma época de experimentações selvagens, embora eu não soubesse disso na época. Era a década de 1970. A escola tentou nos empurrar “hambúrgueres de soja”, mas as crianças sabiam das coisas. Nós nos recusávamos a comê-los. Houve experimentos com novas dietas que tentavam nos fazer abandonar ovos e manteiga e comer mais grãos. Surgiram novos tipos de roupas, como o “terno de lazer” e as “bocas de sino gigantes”.
Na pedagogia em sala de aula, os alunos eram usados como cobaias para novos esquemas, como a “nova matemática”. A “experiência com a linguagem” substituiu a fonética. Diagramar sentenças saiu de moda. A ortografia também. Talvez eu tenha sido da última geração a aprender cursiva, então fui poupado do movimento para acabar com ela.
Entre as experiências estava a sala de aula aberta. Alguns consultores malucos convenceram nossa escola, e eles derrubaram todas as paredes entre as salas de aula. Tenho uma vaga lembrança de chegar a uma terra estranha. Era um espaço enorme, e todos nós fomos posicionados em grupos. A cacofonia era insuportável.
Isso pode ter durado apenas uma semana ou algo assim, antes que os professores começassem a comprar estantes de livros e colocá-las entre as salas. As estantes ficavam cada vez mais altas. Eventualmente, tornaram-se paredes, de modo que ao menos havia um confinamento visual. Mesmo assim, o barulho era insuportável. No ano seguinte, todas as paredes estavam de volta.
Fico impressionado com o quão idiota foi esse experimento. Quem teve essa ideia? Foi algo que varreu os meios acadêmicos e os círculos da educação progressista. Os teóricos não eram realmente professores, mas apenas intelectuais. Eles imaginaram um mundo liberto das paredes que, de alguma forma, faria os alunos se sentirem mais encorajados. Na verdade, era apenas uma forma de repudiar o passado da maneira mais absurda.
Avançando décadas depois, a ideia também tomou conta do mundo corporativo. Ela surgiu a partir de uma percepção: as conversas mais importantes, onde o verdadeiro trabalho acontece, são ao redor do bebedouro e da cafeteira na cozinha. É ali que ocorre a colaboração. E se transformássemos todo o escritório em um espaço tipo bebedouro, um lugar parecido com a cozinha?
Que percepção genial! Mas nem tanto. Claro, essas conversas são importantes, até cruciais, mas o trabalho em si não acontece ali, apenas os “brainstormings”. É um grande distorção imaginar que todo o escritório deveria ser composto apenas por pessoas tagarelando entre si, uma reunião sem fim, e formalizar isso dentro de um ambiente de trabalho.
Certa vez, fui trabalhar em um escritório montado do jeito tradicional, com cubículos, salas e várias divisórias móveis para que as equipes pudessem ser agrupadas. Todos estavam felizes. Mas, tragicamente, a empresa conseguiu mais financiamento e decidiu se mudar. Algum cabeçudo ficou encarregado de imaginar o novo espaço de trabalho.
O resultado foi um enorme espaço de “colaboração” com mesas compridas. Dava para observar todos no escritório, de onde quer que você estivesse. Se alguém assoasse o nariz, você via. Se o telefone de alguém tocasse, não havia para onde ir para atender. Você precisava se desculpar e sair, sob o olhar de todos. Sabíamos quanto tempo as pessoas ficavam fora e quando voltavam.
No começo, parecia empolgante e progressista. Mas, depois de poucas semanas, tornou-se opressor. As pessoas começaram a aparecer com fones com cancelamento de ruído. Usavam todos os possíveis dias de licença médica. Enterravam-se fisicamente nos computadores para tentar recuperar a sensação de privacidade. Se você queria a atenção de alguém, precisava mandar uma mensagem. E a pessoa respondia por mensagem.
Não havia nenhuma colaboração. Era exatamente o oposto. Todo mundo passou a ver os colegas como espiões e inimigos. O lugar ficou em silêncio absoluto, com exceção dos sons dos teclados. Fora isso, todos se esforçavam para criar seu próprio tanque de isolamento. O trabalho em equipe desapareceu. O ambiente tipo panóptico gerou um isolamento extremo.
Nada disso funcionou, e todos nós sabíamos disso. Mas o investimento já tinha sido feito e estávamos presos àquilo. Ninguém reclamava em público porque tinha sido o chefe quem tinha bolado aquele plano maluco. Mais uma vez, fomos usados como cobaias em um plano elaborado que ignorava as realidades da vida no trabalho.
O sujeito que arquitetou o esquema acabou deixando a empresa. A COVID “resgatou” os funcionários de terem que ir ao escritório, e o lugar virou uma cidade fantasma por anos, com os empregados usando a desculpa da doença infecciosa para se libertarem do trajeto até o panóptico.
Afinal, a essa altura, todos os escritórios já usavam Slack ou Teams ou alguma outra ferramenta de comunicação. Estar fisicamente presente só trazia custo, sem nenhum benefício. Foi um experimento fracassado, nascido de teorias que nada tinham a ver com a forma como as pessoas realmente trabalham.
O que todo mundo quer agora é um escritório com porta. Se não for possível, ao menos queremos paredes na frente e barreiras ao lado. Antigamente isso era ridicularizado como “cubículos”, mas ao menos respeitava um senso humano de desejo por algum mínimo de privacidade.
A Harvard Business Review disse claramente em 2018: “Vamos encarar: o escritório aberto pode ser um pesadelo, especialmente quando você está trabalhando em algo que exige sua total atenção. Para piorar, seus colegas podem ser uma distração — talvez estejam em conversas barulhentas ou com os celulares apitando o tempo todo
Isso explica por que tantos profissionais ficaram entusiasmados com a possibilidade de trabalhar em casa.
Após esse desastre corporativo, outra moda parece ter tomado seu lugar: a reunião — glorificada na teoria, mas muito odiada na prática. Elas ocorrem presencialmente ou por videochamada. Nunca conheci ninguém que gostasse delas ou as considerasse valiosas. Mas todo escritório tem um gerente sem talento que gosta de reuniões porque elas preenchem o tempo e criam a aparência de que alguém está no comando.
As reuniões de escritório são ocasiões para todo tipo de exibicionismo e sinalizações passivo-agressivas. Todos percebem quem são os mentirosos, os puxa-sacos, os vaidosos, os enroladores corporativos, os conspiradores, os traíras e os falsos. Além disso, elas são exaustivas. Depois de uma reunião de três horas, todos basicamente encerram o dia e vão para a geladeira ou para o bar.
Um sério desafio corporativo nos últimos dois anos tem sido convencer os funcionários a voltarem para o escritório. O que gerentes e CEOs descobriram é que os funcionários preferem espaços privados. Eles gostam de escritórios. Querem espaços dedicados para se concentrar, como têm em casa. Como resultado, o escritório aberto praticamente desapareceu, substituído por um modelo mais humano.
Todos esses esquemas fracassaram no teste do mercado. São incompatíveis com a forma como as pessoas conduzem suas vidas produtivas. Elas nem sempre querem “colaborar”; às vezes, só querem trabalhar. Os teóricos da gestão, nesse caso, claramente fizeram mais mal do que bem.
Por que precisamos continuar experimentando e aprendendo as mesmas lições repetidamente? A década de 1970 foi uma época de grandes experimentos que fracassaram. As décadas passam, e a ideia estúpida ressurge novamente. Considere o hambúrguer de soja. Pois é, ele também voltou com outro nome — e fracassou de novo.
A moda por ideias novas e, no fim, impraticáveis nunca desaparece completamente. Nosso desejo de “inovar” de maneiras absurdas é aparentemente irresistível. Parece que vivemos tempos em que há um desejo ardente de recuperar o que perdemos quando os intelectuais assumiram o comando.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times