Brazil

Mil filiações em 3 dias: perseguição contra o AfD impulsiona apoio ao partido | Alemanha | política alemã | extrema-direita


Em meio a um cenário político de crescente polarização, o Alternative für Deutschland (AfD) vem se firmando como a segunda maior força parlamentar na Alemanha e conquistando novos adeptos, mesmo após ter sido oficialmente classificado como extremista de direita pelo serviço de inteligência interno (Verfassungsschutz). Entre os fatores que impulsionam esse fenômeno estão o descontentamento com os partidos tradicionais e uma estratégia comunicativa que aborda a imigração e identidade nacional.

Classificação como extremista pelo Verfassungsschutz

Em 2 de maio de 2025, o Bundesamt für Verfassungsschutz (BfV) elevou o AfD à categoria de “confirmadamente extremista de direita”. Até então, apenas alguns diretórios estaduais, como o da Turíngia, o partido como um todo era um “verdachtsfall” (“caso suspeito”), mas agora o AfD passou a estar sob vigilância reforçada, incluindo interceptação de comunicações e uso de informantes. A medida visa prevenir ameaças à ordem constitucional, mas também reabre o debate sobre uma perseguição política ao maior partido de oposição e a possibilidade de um banimento judicial.

Crescimento eleitoral do AfD

Nas eleições federais de 23 de fevereiro de 2025, o AfD dobrou seus 10,4 % dos votos em 2021 para 20,8 % em 2025, o melhor resultado de sua curta história. Esse desempenho colocou a legenda na vice-liderança do Bundestag, atrás apenas da união CDU/CSU, que obteve 28,6 %. Em diversas regiões do Leste alemão, o apoio se aproximou dos 40 %.

Friedrich Merz, agora chanceler, admitiu publicamente que “não é possível banir 10 milhões de eleitores do AfD”, defendendo a necessidade de “enfrentar as causas” que levam cidadãos ao partido, em vez de buscar exclusivamente soluções repressivas. Sua afirmação se deu após pesquisas internas indicarem que metade do eleitorado afeto ao AfD se sente ignorado pelas agremiações tradicionais. Apesar disso, o chanceler alemão reforça categoricamente que jamais haverá um trabalho em conjunto com o AfD ou uma coalizão.

Tendências nas pesquisas de opinião

Em abril de 2025, um levantamento da Ipsos mostrou o AfD pela primeira vez à frente da CDU/CSU em intenções de voto – 25 % contra 24 %. Analistas políticos atribuem esse crescimento à combinação de crítica ao status quo econômico e a políticas migratórias mais rígidas propostas pelo AfD.

Além disso, um estudo do instituto Insa, encomendado pela “Bild am Sonntag”, revelou que 61 % dos alemães consideram o AfD um partido de extrema-direita, e 48 % apoiam sua proibição. No entanto, 39 % enxergam riscos democráticos num eventual banimento, demonstrando a polarização do debate.

Reação da sociedade alemã

Entre as vozes críticas à classificação do partido, destacam-se Lars Klingbeil (SPD), que alertou para o risco de ações excessivamente precipitadas, e Herbert Reul (CDU), que defende análise caso a caso antes de afastar membros do serviço público ligados ao partido. Por outro lado, há forte apelo em setores liberais e verdes por medidas enérgicas, incluindo restrições de financiamento público e acesso a cargos públicos.

Explosão de filiações partidárias

Imediatamente após a classificação de extremista pelo BfV, o AfD registrou mais de 1000 novas filiações entre sexta-feira e domingo, segundo comunicado da líder Alice Weidel via rede social X. Em comparação, a média diária de ingressos era de cerca de 50 novos membros, enquanto os desligamentos ficaram baixíssimos.

Esse movimento inusitado sugere um efeito de coesão interna e narrativa de “perseguição política” que reforça o discurso do partido como vítima do “establishment” autoritário e persecutório. A jornalista e analista política Nena Brockhaus chegou a afirmar que a proibição do partido não ocorrerá e que isso será usado pelo AfD para viralizar no TikTok e mostrar aos potenciais eleitores que eles estão limpos e que tudo não passou de perseguição política por serem de fato a única alternativa para a Alemanha.

Repercussão internacional

As declarações recentes de autoridades norte-americanas sobre a classificação do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como “extremista de direita” pelo serviço de inteligência alemão (Verfassungsschutz) geraram tensões diplomáticas entre os Estados Unidos e a Alemanha.

O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, criticou a decisão do Verfassungsschutz, afirmando que “a Alemanha acaba de conceder à sua agência de espionagem novos poderes para vigiar a oposição. Isso não é democracia – é tirania disfarçada”.

O Vice-Presidente JD Vance também expressou preocupação, declarando: “O Ocidente derrubou o Muro de Berlim em conjunto. E ele foi reconstruído – não pelos soviéticos ou pelos russos, mas pelo establishment alemão”.

Em resposta, o governo alemão reiterou tratar-se de procedimento interno, baseado em “investigação rigorosa” e sem influência externa.

Em Bruxelas, líderes da União Europeia acompanharam com cautela, temendo que o debate interno alimente movimentos populistas em outros países–o que exigirá respostas calibradas para não dar sinais de intromissão em assuntos domésticos.

Conclusão

A ascensão do AfD, combinada à sua classificação como organização extremista de direita, configura um paradoxo: enquanto se enfrenta juridicamente os supostos riscos representados por sua ideologia, cresce também sua base de apoio e adesão partidária, como uma demonstração de queda de credibilidade das autoridades.

A política tradicional alemã está dividida entre conter a expansão do partido pelos caminhos institucionais heterodoxos e reavaliar políticas que alimentam o descontentamento popular. No plano internacional, a controvérsia expôs tensões diplomáticas atípicas entre aliados históricos. O desafio agora é o establishment formar um governo capaz de responder às insatisfações de grande parte do eleitorado sem validar o discurso do AfD. Parece improvável, uma vez que o partido pauta o debate e todas as soluções para os problemas da Alemanha passam pelas propostas do AfD.

As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times



Source link

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *